ALDO CALVET

 

SBAT Sociedade Brasileira de autores TEATRAIS


SBAT HOJE


“LÁ VAI: A REVISTA DA SBAT, QUAL FÊNIX (CAIXEIRAL), NASCEU DE NOVO.”



PRÓLOGO

Estou sentado diante desta mesa onde tantos autores de teatro se reuniram ao longo de muitos anos.


Estou sentado diante desta mesa onde tantos autores de teatro se reuniram ao longo de muito anos. O salão está vazio. Vazio talvez não seja a palavra, pois estou cercado de estantes com muitos livros, a maioria peças de teatro. Ia dizer estou só, mas posso falar de solidão assim, cercado de tantos personagens? Jacques Bonnet, bibliófilo francês (Des bibliothèques pleines de fantômes), diz que na sua biblioteca está rodeado de seres reais e imaginários: imaginários, os autores daqueles livros, de quem se sabe tão pouco; reais, os personagens dos livros, suas vidas expostas e conhecidas. Eu sou o único ser imaginário neste salão, talvez seja o melhor jeito de dizer.


Também ao meu redor retratos e bustos. O retrato de Luiz Peixoto, autor de tantas revistas musicais. Do genial Arthur Azevedo. Ao lado, mestre Daniel Rocha. O busto de Ernani Fornari, autor gaúcho de uma das primeiras peças que li. E, dominando o salão, o busto de Chiquinha Gonzaga, que sonhou este lugar para que dramaturgos, poetas, escritores, compositores se encontrassem. E que sonhou as gerações que ocuparam esta casa. Talvez ela esteja sonhando agora um autor e diretor de teatro sozinho neste salão, e que agora pensa nela, como em um jogo de espelhos. Na fantasia de Borges, eu existo apenas em um sonho de Chiquinha Gonzaga.


Levanto, me afasto da grande mesa de reuniões, dirijo-me a uma estante e tiro dela um volume encadernado de capa verde, gasta pelo tempo. É o primeiro volume da coleção completa da Revista de Teatro, parte desse sonho cheio de labirintos. Olho o ano, impresso no primeiro número: 1922. Volto para a mesa e agora são as minhas lembranças que chegam , perdão. 


A Fênix Caixeiral, em Fortaleza, um prédio lindo, esquina de 24 de Maio com a Praça José de Alencar, vizinho da casa do meu bisavô, Thomaz Pompeu. Era um clube fundado por empregados do comércio no século XIX e que anos depois passou a abrigar também a Associação Comercial, ou seja, patrões e empregados convivendo na mesma casa, bonita demais para um conflito. Uma manchete do jornal O Estado, de Fortaleza, cuja redação ficava na mesma praça (como o Theatro José de Alencar também era ali, falo da geografia onde reúno o maior número de lembranças por metro quadrado). A manchete saiu quando morreu o Papa João Paulo I, depois de poucos meses de pontificado. Ainda estava no ar a memória recentíssima da sua eleição, o noticiário sobre as chacrinhas dos cardeais no Vaticano, a fumaça do habemus papam. E a manchete, em letras enormes, na primeira página do Estado: "O Papa morreu de novo". 


Tudo isso, por um lado, para falar da gloriosa fênix que renasce das cinzas, que nunca posso citar sem vir junto o aposto que desmonta o mito, tira a majestade, enfim, não me leva a sério. Essa palavra linda, caixeiral, de caixeiro, o empregado do comércio do tempo em que o mercado não era deus e o diabo. E, por outro lado, para falar de um sumo pontífice, um extrato substancioso de matérias teatrais, o olhar da Sociedade de Autores sobre o mundo em torno da dramaturgia.


Lá vai: a Revista da SBAT, qual fênix (caixeiral), nasceu de novo.

Pelo menos não disse morreu de novo, e bem que podia: 2008, a revista recém-lançada, cheia de expectativa, três números e morreu de novo. Ainda bem que agora ela renasce (fênix caixeiral), garantida por um convênio que reconhece sua importância. Olho para o Molière, para o Vianinha, ao meu lado nesse salão (vazio?), e eles me dizem: sem culpa, ria sem culpa das coisas sérias. O Vianinha até põe a mão na boca enquanto sorri e alguém tira uma foto bem nesse momento.


Conto mais uma vez: em 2004, renunciou a última diretoria eleita da SBAT. Uma assembléia geral deliberou criar um Conselho Diretor, para que a Sociedade pudesse continuar aberta. Desde aí, esse Conselho, integrado por Millôr Fernandes, Ziraldo,Alcione Araújo e o que agora é sonhador neste salão, todos sem qualquer remuneração, juntos com os funcionários, mantém a Sociedade viva. Sempre achamos que a recuperação da Sociedade de Autores tinha que partir do fortalecimento do centro cultural que ela sempre foi. Uma academia de autores de teatro, dirigida por artistas: João do Rio, o primeiro presidente, Villa-Lobos, Joracy Camargo, Magalhães Jr. Guilherme Figueiredo, muitos. Com o (re)renascimento da revista, começa a tomar corpo outra vez o centro cultural, que vai aos poucos recolocar a SBAT no seu merecido lugar. 


E para (re)recomeçar, nada melhor do que as bênçãos dos irmãos Sócrates e Sófocles, filhos da extraordinária mãe Grécia. A tragédia e a filosofia criam uma argamassa que sustenta até hoje o grande edifício teatral. Teatro e pensamento: a força de um centauro. "Ciência, arte e filosofia crescem agora tão juntas dentro de mim, que parirei centauros", escreve Nietzsche numa carta a seu amigo Rohde. No espaço restrito de uma revista ambiciosa, ouvimos filósofos e artistas de teatro que falam dessa relação hoje e mais especificamente no Brasil. E mestre Alcione Araújo escreve sobre Camus. 


Animados por essa matéria (de capa) fundadora, anunciamos outras relações para os próximos números. Teatro e história. E psicanálise. E cinema. Teatro e... por que não os irmãos Sócrates e Raí?.. futebol. Teatro & Cia. E muito mais neste re-primeiro número. Uma introdução ao debate sobre a nova lei do direito autoral. A primeira de uma série de entrevistas com novos dramaturgos. Também o grande Caruso, o Marcos, conversa conosco. Enquanto assistimos à conversa entre dois autores que se admiram, duas gerações do teatro brasileiro representadas por artistas maiores, que mostram a vitalidade desse teatro. Outrro dia, o Macedo entrou no ensaio do espetáculo que estou fazendo agora e não o reconheci, ou melhor, eu me disse, é o Macedo? tão jovem? há tantos anos? Conheça-o. E mais, e mais. 


Vou terminar como comecei, lembrando. Uma noite, anos 70, Teatro Senac. Estou no camarim e recebo um senhor bem vestido, um cavalheiro. Trazia um gravador e começou a me fazer perguntas. Eu estava começando no ramo, mas ele já queria me ouvir para seu programa no rádio. Um orgulho falar para Alfredo Souto de Almeida. Pois agora ligamos o rádio, outra vez, e sintonizamos em suas boas entrevistas. Ouça.


A revista da SBAT está (re)começando agora. Abra o peito, abra a cabeça, abra a revista da Sociedade Brasileira de Autores de Teatro.


Aderbal Freire-Filho.



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