ALDO CALVET

 

JORNALISMO : NOVIDADES


CRITÍCAS DE ALDO CALVET QUE SERÃO

PUBLICADAS NO FOLHETIM

Perdoa-me por me traíres,

no Municipal (5)

André Barsaq, estudando as leis cênicas, após ligeiro exame da herança tradicional dos italianos dos séculos XVI e XVII, sem perder de vista os diferentes princípios de arquitetura adotados pela cena grega, elisabetana e pela commedia dell’arte, conta-nos interessante experiência pessoal sobre o fenômeno do mistério teatral tomando por testemunhas seus companheiros Jean Dasté e Maurice Jacquemont. Antes, toma por base a máxima atribuída a Lope de Rueda, segundo a qual o “mundo da ficção chamado teatro só é possível acontecer em “um cavalete, quatro tábuas, dois atores, uma paixão”. A ideia do plano superior para o ator surge com a simples indicação do cavalete. Pondo de parte a questão da visibilidade, sugere o ensaísta a necessidade de se criar uma “zona de respeito”, acreditando imprescindível à realização esse relevo. Confessa Barsaq que só com uma cortina separando o ator do espectador pôde encontrar “o mundo do mistério teatral”.

Léo Jusi, como vemos, colocou o “intérprete autêntico” de Nelson Rodrigues dentro do espaço cênico tradicional. Precisamos, por conseguinte, analisar apenas em que condições fora trabalhado o seu “intérprete-autêntico”. Cremos se deve considerá-lo não o títere de Gordon Craig, mas um novo espécime deste, isto é, um “sub-títere” que, sem as mínimas qualidades histriônicas se submete às exemplificações do diretor, passiva e subservientemente, tanto sejam as exigências dos caracteres das personagens, por estranhas ao meio social e por pouco comuns à face da psicologia dinâmica. Na realidade, as personagens de Perdoa-me por me traíres, sem exceção, vêm de um mundo de sentimentos primitivos, são portadoras de paixões incontroláveis, irreprimíveis, de desejos e ímpetos sem censura, pois assim nascem na criação pura e isenta de freios e preconceitos do poeta trágico, chegando ao palco para a expurgação com toda a força, com todo o vigor das suas misérias íntimas, das suas falhas morais, das suas volúpias desenfreadas. Diremos, então que o “intérprete-autêntico” precisa de uma adaptação a esta realística específica concebida por Nelson Rodrigues e posta em prática por Léo Jusi, sem similar na dramaturgia contemporânea. A teoria, por fascinante e revolucionária, aconselha novas tentativas e experiências. Nelson Rodrigues e Léo Jusi devem ter encontrado, certamente, sérias dificuldades nesta primeira arrancada. Apesar disto, reconhecemos, porém, que o passo inicial foi dado com êxito animador. De como entendemos o “intérprete-autêntico” falaremos em outro comentário.  ***