ALDO CALVET
ALDO CALVET
Gênero:
comédia musical prólogo e 10 quadros 1962.
PERSONAGENS:
1 HISTRIÃO
2 CLARA BONCLOU
3 BINGO
4 MARILENA
5 JUMBO
6 CAMELÔ
7 GAZETEIRO
8 1º TRANSEUNTE
9 2º TRANSEUNTE
10 1º MELINDROSA
11 2º MELINDROSA
12 AVELAR
13 ZECA
14 MME. DELLY
15 DIDIER
16 TIRA
17 MIDINETES
18 ALMOFADINHAS
19 PEDRO DAS FLORES
20 LEÃO DE CHÁCARA
21 TRAVESTI
22 APRESENTADOR
TRECHOS:
1º ATO
PRÓLOGO:
Cinelândia, Praça Floriano, vendo-se o Amarelinho com suas mesas coloridas repletas de casais que bebem chope e se abraçam e beijam É fim de tarde. Há música pelo ar, vinda, talvez, do Bola Preta, do Teatro Municipal, dos cinemas ou dos teatros. Numa mesa se reúnem Clara, Marilena, Bingo e Jumbo. Os quatro se divertem jogando pedacinhos de miolo de pão para outra mesa de rapazes do grupo. Acontece que os pedacinhos de miolo de pão vão cair insistentemente na mesa em que está Histrião, homem de seus quarenta e tantos anos, mas forte e sadio como um garotão. Chateado com a brincadeira, Histrião passa a atirar os copos vazios de plástico da mesa dele para a mesa de Bingo, Jumbo, Clara e Marilena. Bingo e Clara são brancos. Marilena é mulata e Jumbo, negro.
“HISTRIÃO – ( Orgulhoso de seu passado de ator ) Teatro não tem segredo, minha gente. Sei tudo de teatro. Representei de tudo no teatro.
BINGO – Farsas?
HISTRIÃO – Esparsas.
MARILENA – ( Num soluço ) Dramas?
HISTRIÃO – E melodramas.
JUMBO – Vaudeville?
HISTRIÃO – “Avec couplet à la mode de la ville!”
CLARA – ( Numa gargalhada ) Comédias ?
HISTRIÃO – ( Trágico ) E tragédias. ( Todos riem. Histrião continua representando de modo caricatural ) Otelo! “Oh, infame, maldito, maldito ( Apontando Jumbo ) sejas tu! ( Jumbo, numa saída falsa, com gestos de inocência. Histrião, aos demais ) Demônios! Expulsai-me a chicotadas para fora ( Aponta Clara ) da vista desta luz celeste! Que os vendavais me tragam sempre em redemoinhos! Que eu ferva em enxofre! Mergulhai-me nos abismos profundos de líquidos incandescentes! ( A Clara ) Oh! Desdêmona! Morta... Desdêmona! Morta! “ ( Dando passos ridículos para frente e para trás ) Oh! Oh! Oh! ( Gargalhadas de todos. Histrião ri também, mas logo toma outro aspecto ) Molière! Harpagão! ( A Clara ) “ Ah! Filha indigna de um pai como eu!” ( Num aparte meio moleque ) Não menos indigno! ( Sério) “ É assim que aproveitas as lições que te dei? Deixas-te engodar...”
CLARA – ( Interrompe, assustada ) Engordar?! ( Triste) Tá me insultando... Humilhação...
HISTRIÃO – ( Explica ) Não é engordar. É engodar. Enganar, sabe? (Declamatório ) “Deixas-te engodar por um ladrão infame e comprometes-te com ele sem o meu consentimento?”
JUMBO – ( Interrompe ) Espera aí. Quem é o ladrão?
HISTRIÃO – ( Volta a olhar para Jumbo ) “ Tu, Valério! E uma boa forca me vingará da tua audácia!” ( A Clara ) Entre quatro paredes de Sartre te porei eu! ( E explica em gargalhadas )
BINGO – ( Desinteresse ) Ah, virou bagunça.
CLARA – Eu queria que você representasse mesmo no duro.
HISTRIÃO – Pra rir ou pra chorar?
MARILENA – Chorar? Basta a fome que anda por aí, a miséria. Rir.
CLARA – ( Corta ) Rir. Queremos rir.
JUMBO – Conta uma piada. Tu não sabe piada?
HISTRIÃO – Piada...
CLARA – Com esse nome de Histrião, não saber piada é o fim.
HISTRIÃO – Piada, piada... Deixa ver se me lembro. ( Lembrando ) Ah, uma de salão.
MARILENA – ( Corta ) Salão?
HISTRIÃO – Digna da Academia de Letras.
BINGO – Manda.
HISTRIÃO – Em 1887, Ramalho Ortigão esteve no Brasil. Numa reunião, a escritora Diná Silveira de Queiroz pintou por lá.
CLARA – É mesmo?
HISTRIÃO – O escritor português era um paquerador.
BINGO – Deu em cima da Diná?
HISTRIÃO – Não. Deu em cima dos livros.
JUMBO – Não entendi.
HISTRIÃO –Elogiou os livros da Diná: “Margarida de La Rocque”, genial; “Pecado”, genial; “As Defloradas da Serra”, genial. A Diná falou pro Ortigão: infelizmente, não posso dizer o mesmo dos seus livros.
CLARA – E o Ortigão?
HISTRIÃO – Ali, na bucha:¨ faça como eu, minha senhora, minta, minta.¨
CLARA – Boa!
JUMBO – Conta uma piada bem picante.
MARILENA – Uma piada proibida.
HISTRIÃO – Campanha moralista. Picante. Picante. Ah, o Pedro Celestino, no Teatro Solis do Uruguai, cantava a romanza da opereta “Frasquita”. Cantava bem. Quando terminou, um delírio de aplausos. Um cidadão, numa frisa, se levantou batendo palmas e falou: bis! Bis! Bis! Lo piden nosotros de la família Picca. ( Gargalhadas ) Vou contar pra vocês coisas de um grande mentiroso das ruas do Rio dos idos de 1923.
CLARA – Oba! Conta. Conta.
( Escuro )
FIM DO PRÓLOGO”
23 BURGUESÃO
24 MARCHIORO CAMPANELLO
25 1º ESCRAVO
26 2º ESCRAVO
27 1º QUITANDEIRA
28 2º QUITANDEIRA
29 LENHADOR
30 ALHOÁ
31 JOÃO DAS ALMAS
32 CAFUINHA
33 COREÓGRAFO
34 JORNALISTA
35 PRODUTOR
36 DIRETOR
37 GUARDA NOTURNO
38 SERESTEIROS
39 BRANCURA
40 SABIÁ
41 ALEGRIA
42 VOZ
43 BAILARINOS ( 6 )
44 BAILARINAS ( 6 )
FIGURANTES DIVERSOS
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