ALDO CALVET

 

BIOGRAFIA : DADOS AUTOBIOGRáFICOS :

serviÇo nacional de teatro - SNT


DISCURSO DE POSSE DE ALDO CALVET NA DIREÇÃO DO SERVIÇO NACIONAL DE TEATRO

28.02.1951


Senhor Ministro

Minhas Senhoras

Meus Senhores


Os homens não se pertencem. São do todo em que vivem, lutam e morrem. Saio de uma campanha que, francamente, não promovi, porque a ela fui impelido pela vontade indestrutível e eloqüente dos artistas do Brasil. A luta não me abate. Estimula-me. Como homem de jornal, habituado a esses debates constantes em defesa do bem estar coletivo, V. Exa., Senhor Ministro, sabe perfeitamente de que são capazes os indivíduos quando entram no jogo das competições, visando meramente a interesses pessoais. Eu devia, pois, esperar tudo, até mesmo atitudes irrepreensíveis de reputada moral e gestos de elegância e bela ação. Não guardo ódio, nem rancor, nem ressentimentos de ordem individualista. Não animo o menor desejo de vindita. Ao aceitar a indicação do meu nome para o alto cargo de diretor do Serviço Nacional de Teatro, em movimento espontâneo da classe teatral, cujas esperanças de êxito tinham por base a promessa do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, assumi comigo mesmo o compromisso de trabalhar honesta e sinceramente pela causa do teatro, servindo o Governo no seu nobre propósito de amparo à classe dos trabalhadores cênicos e à cultura teatral do País. Estou ligado ao teatro por força de inevitável vocação que vem desde os primeiros e incertos passos da juventude. A jornada tem sido longa, espinhosa, repleta de empecilhos. Confesso, porém, que no labor dessa missão tenho deparado momentos de infinita alegria em participar humilde, mas honrosamente do fenômeno da criação artística.


O Serviço Nacional de Teatro, Senhor Ministro, nestes treze anos de existência, em quase nada tem contribuído para a grandeza, elevação e expansão do teatro brasileiro. Os problemas são muitos e bastante complexos. Esses problemas se agravam dia a dia. A crise por que passa o teatro é de âmbito e extensão universal. Não é, como se possa supor, privilégio do Brasil. Lutando contra poderosos concorrentes como o cinema, o rádio e já agora a televisão – artes correlativas que dispõem dos recursos da mecânica moderna, quer em possibilidades de difusão imediata, abrangendo a um só tempo incalculável massa de espectadores de várias camadas sociais, quer nas vantagens que oferecem, especialmente as duas últimas como veículos publicitários de largo alcance, o cinema, o rádio e a televisão se colocam vantajosamente diante do grande público, enquanto o teatro, pelo contrário, possui campo limitado de ação e está sujeito a despesas forçadas que o tornam diversão de luxo nada acessível ao povo. Acontece ainda que essas despesas tendem sempre a aumentar desde que se levem em conta o desgaste material com o decorrer do tempo e o acréscimo de salário do pessoal nos intentos expansionistas.


Como funcionário desta Casa, especializado na matéria; como crítico militante em contato diário com elementos do teatro de todas as categorias e sem distinção de gêneros, posso afirmar que a solução dos principais problemas que afligem a cena nacional depende exclusivamente do Governo, já que é inútil apelar para a colaboração dos que retêm nas mãos os meios de que tanto precisamos para a obra de recuperação da arte que glorificou João Caetano. É que lhes falta, a meu ver, compreensão de que teatro não é só expressão de cultura por excelência é também culto cívico dos povos.


Portador da confiança da classe teatral, desejo declarar neste ato solene que, de acordo com os elevados objetivos culturais da esclarecida administração de V. Exa., procurarei elaborar um plano de ação, no S.N.T., conjuntamente com as entidades representativas da classe, partindo de um ponto de vista que julgo de real e inestimável valia para a boa execução dos trabalhos: a harmonia e a unificação entre os que se sacrificam, lutam e vivem do teatro, para o teatro.


Quero nesta posse, senhor Ministro, reconhecer os louváveis esforços e a operosidade do meu antecessor, professor Thiers Martins Moreira, cuja gestão acompanhei de perto como auxiliar e amigo.


Rogo, Senhor Ministro, permissão para agradecer ao Governo, na pessoa de V. Exa., a honrosa confiança com que me distinguiu. Tudo farei para continuar a merecê-la, pois representa ela o maior estímulo e o maior conforto para este seu fiel servidor.

Aldo Calvet faz seu discurso de posse no cargo de Diretor do S.N.T – MEC, no salão nobre do Ministério.

Aldo Calvet assina o têrmo de posse. Presentes, da esq. para a dir., Procópio Ferreira, Barreto Pinto, Sr Múcio Vaz, Chefe da SA da Divisão do Pessoal, Dr Orlando Calaza, Diretor-Geral do Departamento de Administração, Sr Leopoldo La Vega e o empossado; no fundo, pela mesma ordem, Lúcia Cerne de Carvalho e Cândida de Carvalho, sobrinhas e secretárias do Ministro Simões Filho.

ALDO CALVET NA CERIMÔNIA DE POSSE O Ministro Ernesto Simões Filho, da Educação e Cultura, em discurso da posse do jornalista e teatrólogo Aldo Calvet, no cargo de Diretor do Serviço Nacional de Teatro, em fevereiro de 1951, vendo-se da esquerda para a direita: Srs. Múcio Vaz, da SA da DP, Dr. Orlando Calaza, Diretor-Geral do Dep. de Administração do MEC, S. Exa. o Ministro de Estado e o empossado.