ALDO CALVET

 

SERVIÇO NACIONAL DE TEATRO : DADOS AUTOBIOGRÁFICOS


VOCAÇÃO E ENSINO


Quando à frente do antigo SNT (1951/1954) transformamos o Curso Prático de Teatro, criado por Abadie Faria Rosa e dirigido por Benjamim Lima, em Conservatório Nacional de Teatro, depois Escola de Teatro da Fefieg e atual Escola de Teatro ou Faculdade de Artes Cênicas da Uni-Rio, procuramos atender, em primeiro lugar, aos anseios de evolução do seu corpo docente que, em 1953, crescia pleno de idealismo e entusiasmo pela necessidade de ampliação de seu currículo didático então composto de disciplinas mínimas em confronto com o  desenvolvimento da arte dramática, levando em  consideração as propostas de reformulação de geniais realizadores desde o surgimento do Teatro Livre de André Antoine, em 1887, a Paul Fort, Jacques Copeau, Charles Dullin, Louis Jouvet, Gaston Baty, Jean Villar, Jean-Louis Barrault, na Franca; Erwin Piscator, Max Reinhardt, Adolfo Appia, na Alemanha; Mayerhold e Stanislawsky, na URSS; Giulio Braghalia, na Italia; e, em segundo lugar, exatamente por reconhecer muito proveitosos os ensinamentos de tantos mestres famosos, não esquecendo nunca a assimilação clarividente e profunda das aludidas teorias por parte do grande idealista e grande dramaturgo que foi nosso ilustre patrício Renato Viana em tentativas constantes para executar no palco todos os métodos e reformulações cênicas em voga na Europa. Sim, de um simples Curso Prático, sem maiores exigências curriculares, implantamos o Conservatório, agora com a aplicação da renomada “improvisação” do não menos renomado Charles Dullin. Tudo, convém reconhecer, com o apoio administrativo e o alto espírito da ciência pedagógica do então Ministro da Educação e Cultura, o saudoso jornalista Ernesto Simões Filho. Quisemos, deste modo, criar compromissos de ensino mais profundo e mais amplo mediante a instalação de novas disciplinas, convocação e contratação de professores de reputada competência.

Bolelavsky não acredita que se possa ensinar uma arte; que possuir uma arte é possuir talento; que não há professor que dê talento a aluno. Mas é certo que se pode ensinar um aluno a amar o teatro, isto é, a aprender sua técnica de expressão, a seguir sua disciplina de estudo, sua lição de humildade diante dos obstáculos a vencer no terreno interpretativo.

O ator é apenas um elemento interpretativo, cremos, porque acredito que, sem esse amor pelo estudo, sem essa dedicação, sem os esforços da aprendizagem constante e conscienciosa, pouco também se tornará esplendente o talento numa arte que se realiza com sucessivas transposições cênicas feitas por ações e reações psicológicas.

Diremos, então, que o Conservatório Nacional de Teatro constituiu na época a vitória da vocação disciplinada sobre a vocação puramente manifestada, da vocação que se submete tentando ou aspirando aperfeiçoar-se, vitória sobre aquela vocação que, preferindo o absolutismo ou a anarquia, se perde ou se confunde na rebeldia.

A arte teatral no seu contexto não se contenta mais com mera vocação predestinada e posta em exibição de tipos sem conteúdo e de situações equívocas. Exige inteira consciência do estado subjetivo desses tipos e as circunstâncias psicológicas dessas situações em tempo, lugar e espaço sócio-econômicos precisos.

Só na escola o talento dramático vocacional encontra meios de estudo, podendo, assim, entender e participar da alta mensagem civilizadora do teatro.

 

O EDITOR

ALDO CALVET

 

EDITORIAL DA REVISTA DE TEATRO

ANO LXVI

N. 474 ABR.—MAI.-JUN. DE 1990



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